domingo, 22 de julho de 2012

Lembranças de minha infãncia


O ferro de passar roupa

O ferro era de ferro mesmo. Grande, pesado e cheio de brasas. A roupa branca como a neve tinha que ficar impecável. Imagina se uma poeirinha de cinza caísse nas ceroulas engomadas do doutor! Teria que voltar para a bacia.
Uma grande  bacia de alumínio, um pedaço de sabão pintado em barra. Uma tábua dentro da bacia e as mãos firmes de nossas madrinhas calmamente a esfregar, esfregar até sair toda a sujeira da roupa.
O quarador era bem grande. Todo matinho virava quarador. Elas colocavam a roupa de uma maneira que parecia um grande tapete ao sol. Lençóis, fronhas, toalhas... E a colcha pique? Eram umas colchas muito bonitas! Seu tecido era pesado. Todo trabalhado em alto relevo. Eram tão bonitas! Eu queria uma na minha cama. Não sei se ainda existem...
Depois de quaradas ao sol toda aquela roupa era enxaguada passando por várias águas até sair água limpinha e por último ainda passava pela água anil.
O varal parecia uma galeria de artes exibindo uma obra prima.
Valdivina, Evangelina, Corsina, Genoveva e Sebastiana. Nossas madrinhas da Rua Saracá
Cinco mulheres do bem. Negras, fortes, bonitas, firmes, de fé inabalável.
Viveu no anonimato a dignidade de rainhas.
Tiveram grande participação na formação do meu caráter. Representam o lado bom de minha infância.
Porque Nossas madrinhas?
Porque em nossa casa éramos muitos irmãos e cada uma delas era madrinha de um. A minha era a Valdivina. Ela lavava oito trouxas de roupa por semana. Eu adorava ficar ao lado de sua mesa quando passava roupa. Ali a gente ia conversando. Ela contava casos, histórias de sua infância e também me dava conselhos. Também eu gostava de ir com ela buscar e entregar as trouxas de roupas.
Hoje tudo automatizado. Muito bom...
Mas como marcou a minha vida! Quanta inspiração floriu o meu ser o modo de ser das nossas madrinhas lavadeiras!
Cida Araújo (Do livro O manacá florido)